Na primeira edição do Balacast Convida, a repórter se aprofunda sobre os enredos sonoros diante o conservadorismo na história cultural brasileira.
Texto Isabela Pétala
Arte Ana David
É inevitável se sentir imponente diante tantas tragédias e perigos implantados pelo atual governo do Brasil. E para nós, jornalistas de cultura, artistas e apaixonados por música, o sentimento de estar investindo nosso tempo em vão tornou-se constante nos últimos tempos.
No entanto, a batalha pela cultura pode ser não apenas algo que irá preservar milhares de obras, empregos e sonhos, mas também pode incentivar e fortalecer a resistência contra essas ameaças à democracia, tornando-se uma arma política poderosa ao trazer o afeto através da música como catalisador de pontes diante os destroços.
E é o poder e as raízes de tal arma que nossa repórter Thaís Regina investigou na primeira edição do Balacast Convida, que estreia hoje 1.6, com edição de áudio de Nik Silva.
Para desvendar esse quebra-cabeças de sons e ruídos que rondam a atualidade, Thaís conversou com Tuto, como é conhecido Luiz Augusto de Paula Souza, de 58 anos, doutor em Psicologia Clínica e professor de Comunicação Humana e Saúde da pós-graduação da PUC-SP.
Tuto estuda há anos como linguagens da arte promovem afetos entre as pessoas, às auxiliando a enxergar seu lugar no mundo, inclusive durante momentos políticos, como foi demonstrado no regime militar e o efeito das canções criadas pela oposição da ditadura, que resultou em cruéis perseguições devido às inúmeras vozes que batalharam, e venceram, rumo à democracia.
Apesar da vitória, Brasília parece ter se tornado uma convenção de viúvas da ditadura desde o começo do governo Bolsonaro. E esse luto não resulta só em luta, mas em destruição e aniquilação. Em março de 2020, o Ministério da Cultura foi absorvido e transformado em uma Secretaria que teria como missão tirar forças e recursos do setor, inclusive suspendendo a Lei Rouanet em estados que adotaram lockdown diante a pandemia de Covid-19.
Para Regina Machado, de 56 anos, cantora, compositora, instrumentista e docente do Departamento de Música do Instituto de Artes da UNICAMP, que se debruça sobre a natureza das vozes que compõem o coro da música popular brasileira, o empenho de regimes fascistas em dilarecerar o gênero, mostra de fato a sua efetividade no combate das lutas estabelecidas por eles. “A música popular brasileira surge a partir desse olhar muito crítico para a sociedade brasileira. É um tipo de música que foi cronista dessa sociedade em diversos momentos”, afirma.
Há quem diga, com razão, que a educação será sempre a resposta. E para Regina, o poder da música é um dos exemplos que ilustra esse fato, tendo em vista que, para ela, os artistas possuem um papel muito semelhante aos educadores. “O que o artista diz e a maneira como ele se posiciona cativa e motiva as pessoas. Tem eco”, conta Regina na entrevista. “E não estou dizendo que esse posicionamento precise ser de uma ordem panfletária, que precise se assemelhar a uma liderança política, social, ou comportamental explícita.”
Em tempos de EAD, a conexão com a música nunca falha, e se diante a cavalaria parecemos sozinhos, há de se apegar na transformação que a cultura ensina para todos nós, dançando com passos firmes, mas para sempre dançando. 🙂