A artista abraçou processos criativos colaborativos e se surpreendeu com o resultado
Texto Mariana Marvão
Foto Guilherme Junqueira
Ela voltou com tudo! Neste mês, em 17/3, Mahmundi lançou “Sem Necessidade”, uma colaboração com o Tagua Tagua, projeto de Felipe Puperi. A track dá o pontapé da sua nova fase artística. A cantora, compositora e produtora musical carioca tem três discos de bagagem, além de uma indicação ao Grammy Latino e diversas parcerias com outras artistas, como Liniker e Anelis Assumpção. Após dois anos sem shows solo, os fãs de Mahmundi podem comemorar porque vem muita coisa boa pela frente. Acompanhe os próximos planos a seguir:
Você ficou dois anos sem lançar música como Mahmundi. O que aconteceu nesse período?
Antes da entrevista, eu estava falando com um parceiro de que há uma demanda muito grande da gente se ver no mundo. O que descobri nesses últimos dois anos é que tem muita coisa pra fazer na indústria, desde trabalhar no Grammy Latino, a produzir e compor com outras pessoas. Fui monitora de um projeto com jovens em início de carreira no Instituto Dragão do Mar, em Fortaleza. Tem muita coisa pra fazer! Então tudo isso foi me ajudando a compor a minha mentalidade artística. Acho que era importante voltar, mas voltar com sentido e com uma imagem que faz sentido. E isso vai desde as fotos analógicas que eu fiz, até deixar esse clima mais etéreo, chamar o Tagua Tagua para produção musical, trabalhar com outros parceiros, como o Josefe. No fim das contas, estamos em um mundo mais colaborativo, então é bom passear e se apropriar disso. Na metade do ano passado, eu já estava pesquisando, mas elas não tinham o assunto principal, que para mim, é o som. Eu não sou uma pessoa de compor com a voz alta, de te dar um texto, estou mais entre as guitarras e baterias. Como os fãs estão alucinados, achei que era hora de voltar e estar na pista de novo, aprendendo mais uma vez em como fazer música. Porque é inevitável: o mundo está mudando e a gente tem que mudar junto com ele.
O que mudou na sua mentalidade depois do disco Para Dias Ruins (2018)?
Desde o disco, fui indicada ao Grammy Latino e fiquei um pouco chocada com essa informação. De repente, o sonho da sua vida aconteceu. Depois, eu fiz Mundo Novo (2020), que nasceu da minha vontade de trabalhar com banda. Acho que o que mais mudou foi me reconhecer como a pessoa que sou hoje em dia. E não só como mulher ou sapatão, mas quem é essa pessoa que está em mutação o tempo inteiro. A cada processo eu também não me reconheço, e isso é bom. Trabalho desde cedo, nunca tive tempo de olhar para mim, então o mais precioso foi poder me olhar.
Como “Sem Necessidade” chegou até você?
Recebi essa música do Josefe, que é um compositor, cantor, violonista e que realiza “song camps” (acampamentos musicais). Ele escreve naturalmente para outras pessoas. Essa música ele guardou no bloco de notas do celular. Ele falou: “ela está parada aqui, você quer?”. Me mandou uma demo no violão e eu me apaixonei. Pensei que poderia ser várias coisas, do pop, r’n’b e samba. O lance da produção musical é pegar uma música em voz e violão e dar a roupa que você quiser. Depois o Tagua Tagua somou, ele achou foda adicionar vozes e a frase do refrão. O problema é que se deixar, a gente fica mexendo sem parar, é preciso ter a mentalidade de falar “chega porque preciso lançar”.
Você acha que esse critério aumentou depois de se tornar produtora musical?
Terrivelmente, é um inferno. Eu amo o que eu faço, mas tenho várias questões, que eu trabalho em análise. Quando você vem de uma realidade muito difícil, como eu vim, você está sempre pensando “eu não posso fazer isso, preciso ser melhor”, e de repente, você constrói um muro e depois não consegue pular essa barreira para ver as novidades. Por exemplo, eu sabia que essa música podia ir muito mais longe mas o meu tempo estava acabando. Quando Tagua Tagua veio com a bateria e a voz, pensei: “cara, é isso. Deus quer”. Sai um pouco do muro. Dei uma respirada. Às vezes, o que vem de fora faz bem. Sempre busquei por essa excelência, mas no final das contas, isso não existe, né.
Como foi a conexão com o Tagua Tagua?
A gente se conhece faz tempo. O Tagua Tagua é um desdobramento do Wannabe Jalva, uma banda que já está aí há um tempo. Eu flertava com o som deles, os caras que tocavam todos certinhos, sempre tocavam bem. Aquela história de banda de rock do sul, uma região que tem essa história de rock bem produzida. Quando o Felipe saiu e fez o Tagua, comecei a observar o processo e ver que ele estava mandando muito bem. Em janeiro mandei uma mensagem por DM no Instagram e ele falou “vamos fazer”. Foi perfeito porque a música já estava bem encaminhada, mas queria ajuda para concluir esse mistério. Falar com produtor musical que também é frito, faz a gente ir atrás do que falta. Então foi um golaço.
Você vai abraçar mais essa a persona artista?
Na verdade, ela está aí, né? Eu acho que é sempre muito difícil, pra gente que é mulher, que trabalha com essa coisa meio extraordinária de produzir música, cantar e fazer show. Não dá tempo das pessoas verem tudo que você faz. Mas estou bem mais animada a voltar a fazer música, muito mais porque eu acho que essa vivência toda do Grammy e das outras coisas me deram um norte mais abrangente. Voltar e fazer música no Brasil. Ainda mais esse tipo de música que a gente faz, esse nicho que ainda está se fortalecendo, cada vez mais com os festivais. Dá uma força pra voltar. Acho que fica mais divertido. Quando eu comecei, tinha uma cena com Letrux, Silva, Holger, que a gente estava junto, mas não sabia se colar, não sabia como fazer. Algumas bandas pararam, outras mudaram de estilo, mas eu sinto que agora em 2023, por exemplo, é muito mais fácil você falar que você é um artista indie e não um artista independente, mas com um som indie. A própria Balaclava tem muito isso, você consegue se colocar numa cena, então isso te dá muito mais segurança, dá mais energia.
Quais são seus próximos planos?
O álbum sai em abril ou maio. Estou muito feliz porque finalmente cheguei em um resultado legal com boas canções e uma produção massa. Agora que voltei para essa história, a ideia é lançar coisa nova no segundo semestre. Agora é trabalhar na demanda do mundo, sabe? Acho que é importante para mim, eu era uma pessoa muito conservadora, antes pensava “ah, não gosto disso”. Vai ser mais um desafio saber como essa música tocaria em uma festa ou se alguém vai fazer um remix.