Aos 21 anos, a artista norueguesa finalizou
o primeiro disco e segue como aposta do indie.
Texto Isabela Yu
Foto divulgação
Um dos nomes quentes do indie mundial, girl in red, projeto da cantora e compositora norueguesa Marie Ulven Righeim, está com o primeiro disco pronto. A estreia de if i could make it go quiet acontecerá em 30 de abril. Em 2021, a artista também apresentou o single “Serotonin”, com co-produção do FINNEAS (irmão da Billie Eilish).
Em novembro do ano passado, a cantora lançou a faixa natalina “two queen in a king size bed”, antes disso, lançou “rue”, em agosto, e “midnight love” em abril. As tracks servem de prenúncio para onde o som da artista de 21 anos está caminhando. Seu bedroom pop com riffs de guitarra ganhou mais elementos na produção, como teclas e texturas.
Marie começou a chamar a atenção da mídia e do público em 2018, quando lançou o single “i wanna be your girlfriend”. Durante o primeiro ano de quarentena, a track viralizou no TikTok como hino gay entre as jovens adeptas da plataforma. Inclusive, a pergunta “você escuta girl in red?” virou espécie de senha para seguir com o flerte. A cantora se sensibilizou com os fãs e logo produziu uma resposta a altura.
Em agosto de 2020, cartazes com “Do you listen to girl in red?” começaram a aparecer em ruas movimentadas das grandes cidades do mundo todo. “Não sei em quantas, mas o critério era pirar em lugares onde a população LGBTQI+ está em risco, como na Polônia, Brasil e Rússia”, diz Marie à Revista Balaclava. O efeito foi instantâneo, milhares de postagens começaram a pipocar online e a mostrar quem, de fato, conhecia ou já tinha escutado girl in red.
Sem ter um álbum completo, lançou vários singles nos últimos anos, e cativou um público fiel nas redes sociais, assim como encantou artistas mainstream – de Billie Eilish a Matty Healy (The 1975). Antes da pandemia, estava com turnês planejadas mas aproveitou o tempo em casa para finalizar o aguardado primeiro trabalho, algo que não seria possível com a rotina agitada de shows.
Por enquanto, não tem planos para novas ações no “mundo real”, porque para Marie, a comunicação nas redes também faz parte do seu plano: “Meu projeto começou online, então é possível, mas ultimamente estou tentando ficar mais na vida real. Acho que a razão porque as pessoas ficaram tão animadas com os pôsteres é porque aquilo estava na vida delas. Você pode ter dominação mundial online mas aquilo se torna mais vivo quando está na realidade de alguém. Sim, é uma droga não poder viajar, mas ninguém pode, então a dominação de todo mundo está em pausa.”
Tempo de acolhimento
A artista vive em Oslo, na Noruega, e está enfurnada dentro do apartamento desde o começo da pandemia. “Aprecio quando posso andar fora de casa, me sinto claustrofóbica depois de ficar tanto tempo entre quatro paredes, parece que você nem faz mais parte do mundo”, conta. Durante os últimos meses, dedicou seu tempo e atenção para lapidar as novas músicas, então não buscou conforto em entretenimento.
“Não tenho visto televisão, mas logo na primeira semana de quarentena, assisti tudo da série Crepúsculo, o que pode soar bem estranho, mas eu gostava tanto quando era menor. Foi estranho assistir de novo, pensei na hora: ‘era para isso que eu estava investindo todo meu tempo e energia?'”, Marie diz em tom de piada. As paixões adolescentes também apareceram nos fones de ouvido, a artista conta que escutou muito o novo disco da Taylor Swift, folklore (2020), assim como os trabalhos de Lorde e Billie Eilish.
A série Euphoria, estrelada pela atriz americana Zendaya, também virou referência para uma de suas canções. A track “rue” é inspirada na personagem principal, que entre várias questões, batalha com dependência química. “Me vejo nela, na maneira como ela abusa da vida e dos sentimentos. Assistir a série me fez pensar que não estou tão sozinha. Pensei na pessoa que escreveu a personagem, que sentiu tudo aquilo, então talvez eu sou a Rue, qualquer pessoa pode ser ela e temos tantas no mundo”, explica. A falta de representações queer na mídia também foi um dos motivos porque o programa teve tanto apelo com o público.
No seu próprio trabalho, Marie conta histórias pessoais que evocam sentimentos universais, sempre com altas doses de realidade: “Vem tudo da minha vida. Se não aconteceu exatamente comigo, coloco uma história para provar o que estou sentindo. São coisas que senti, como vejo o mundo ou meus relacionamentos”. As letras começam a aparecer depois de achar a melodia certa e entender o que a música pede. Mesmo que tudo comece na guitarra, passou a experimentar com Ambient Music, e a ficar mais confiante no piano.
A vibração específica das faixas lançadas em 2020 também fazem parte desse movimento de acolhimento. “Em comparação com o que já lancei, as novas faixas são mais sombrias porque estou me conhecendo melhor, e isso reflete na música”, diz sobre o que será lançado em abril deste ano. Há também uma nova adição em seu time criativo, que agora conta com co-produção do músico Matias Tellez, o responsável pela engenharia de gravação.
Ainda assim, todas as canções começam no quarto da compositora: “ele é um cara muito talentoso, escutamos as mesmas coisas. Eu continuo como produtora, ele está co-produzindo, porque preciso sentir que estou no controle. No momento em que sinto que não controlo a minha música, sinto que ela não é minha, por isso demorei tanto tempo para deixar alguém trabalhar comigo“. Compartilhar parte do processo também ajudou a cantora a focar nas partes criativas, e dividir os elementos mais técnicos de gravação.
Por mais que já tenha alguns sucessos indie na bagagem, fazer música ainda soa novo no mundo de Marie, que se sente cada vez mais próxima da produtora musical que deseja ser: “às vezes, sento com a guitarra e nem sei como fazer música, um sentimento estranho, me sinto meio estranha ultimamente. Todas as músicas do álbum começaram em casa, então elas já tem um caminho, mas pode ser que não. Me sinto muito confortável com a maneira que eu trabalho, parece natural, e é o único jeito que sei fazer”. ☺