O grupo Idol japonês, formado pelo produtor Akira Ishida e pela cantora Chiyono Ide, apresenta uma obra intrincada e repleta de discos conceituais.
Texto Giovanni Vellozo
Foto Divulgação
No panorama da música pop atual, existem trabalhos conceituais, mas o 3776 alcança outro patamar. O grupo Idol japonês, formado pelo produtor Akira Ishida e pela cantora Chiyono Ide, e baseado na cidade de Fujinomiya, vem construindo uma obra intrincada desde 2013. O duo chamou atenção em terras muito distantes do gigante Monte Fuji, inclusive, o projeto foi batizado com a altura da montanha. Seu último álbum, Saijiki, lançado em 2019, obteve no RateYourMusic um pouco mais de 2500 notas de usuários, figurando entre o top 50 discos mais bem avaliados daquele ano.
A coisa fica ainda mais curiosa ao avaliar as características do disco em questão. Nele, cada uma das 12 faixas representa um mês do ano, mas cada composição contém várias canções dentro de si. Na mudança de faixa, a fórmula de compasso aumenta em um tempo, e há a subida de meio tom para cima na escala cromática. A própria duração das faixas está relacionada à duração do mês, com doze segundos para cada dia, considerando um ano bissexto (como 3776 será). As letras, entre cantigas infantis tradicionais, recheadas de referências à música erudita, estão diretamente relacionadas ao momento do ano retratado. Tudo cantado em japonês e se assemelhando a um Saijiki real, que consiste em uma lista tradicional de termos sazonais para a criação de haikais.
Para além de Saijiki, o 3776 tem uma série de outros lançamentos, entre singles, EPs e trabalhos ao vivo, disponíveis na loja da OTOTOY. Também já teve algumas formações distintas, mas a mais recorrente, que gravou Saijiki e o álbum anterior 3776 wo Kikanai Riyuu ga Aru to Sureba (2015), é fácil de reconhecer em uma passada rápida por apresentações no canal oficial do grupo.
A atual formação consiste na cantora Chiyono Ide (ou Chii-Chan, para os mais fofos) e no produtor Akira Ishida. Ambos já haviam trabalhado juntos no grupo Idol TEAM MII, que durou cerca de um ano entre 2012 e 2013, e também era produzido por Ishida. Para além da parceria no grupo, os dois já colaboraram no projeto Minanaro Extended, que conta com discos ao vivo, e na carreira solo de Chiyono, que lançou três álbuns conceituais sobre a vida escolar no ensino médio.
Troquei emails com Akira Ishida sobre a história e o início do projeto. Leia a seguir:
Sei que você se inspirou muito no sucesso do AKB48 para criar seus trabalhos Idol com o Team MII e o 3776. O que te atraiu neles para você entrar nesse universo musical?
Akira Ishida: AKB48 foi apenas um dos gatilhos para o meu trabalho, porque eu já queria fazer música “Idol” antes disso. Porém, é certo que o grupo me influenciou. Lembro que eles fizeram uma apresentação em uma casa de shows pequena. Fiquei impressionado por compartilhar o mesmo espaço com eles, e isso me marcou mais do que a composição musical, que não era assim tão importante para mim.
No início, você mandou e-mails para vários locais do Japão, buscando criar um grupo Idol local. Foi difícil encontrar um lugar que apoiasse essa ideia?
AI: Eu me lembro que não foi tão difícil para mim na época. Recebi uma resposta depois que já havia encaminhado emails para um terço dos governos locais do Japão. Penso que levei apenas uns três dias para mandar tudo. Fui muito sortudo, e sou grato à pessoa que respondeu.
Apenas para esclarecer, quando você falou em governos locais, você estava falando das 47 Prefeituras no Japão [que, diga-se, não têm o mesmo significado de prefeituras no Brasil] ou outras divisões administrativas, tipo cidades, distritos?
AI: Enviei emails para prefeituras e cidades. O número de governos locais que eu tentei contato deve ter excedido por baixo 500. A propósito, lembro que recebi várias outras respostas para além de Fujinomiya City. As respostas eram “pedimos desculpa, nós não precisamos de tal oferta” ou algo do tipo. Mesmo assim fiquei feliz com essas respostas, porque a maioria dos lugares que eu enviei sequer responderam.
O TEAM MII durou apenas um ano, e depois nasceu o 3776, que leva o nome da altura do Monte Fuji em metros. Isso aconteceu justamente no ano em que o Monte Fuji foi declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO. Essa foi essa a razão principal para você ter concebido um grupo que cantasse sobre a montanha?
AI: Não foi. Sendo honesto, nem pensei muito a respeito. O que aconteceu foi que o nome TEAM MII não estava mais disponível, então tive que pensar em outro nome. O grupo antigo também tinha canções sobre o Monte Fuji, então veio a ideia de dar ao nome [do 3776] algo relacionado com a montanha. A declaração da UNESCO foi uma ocorrência fortuita.
O 3776 começou com vários integrantes, mas após algumas temporadas, ficou consistindo apenas em você como produtor e a Chiyono Ide como única cantora. Os dois álbuns do grupo foram gravados nessa formação, diga-se. Quais foram as razões das saídas dos integrantes anteriores? Houve alguma preferência sua por um trabalho reduzido à configuração atual?
AI: As razões que motivaram as saídas foram diferentes entre si, mas todas triviais. Resumindo, o profissionalismo dos antigos integrantes era pequeno, e tudo bem, porque penso que isso nem sempre deve ser necessário para um grupo Idol local. Particularmente, concebi 3776 como um grupo, logo eventualmente tentei fugir dessa formação solo. E recrutei membros várias vezes para isso, mas nada funcionou.
Agora eu pergunto para Chiyono, que é integrante do 3776 desde 2013. Como você conheceu o projeto e entrou para a sua formação? Você já fazia música e dançava antes disso?
Chiyono Ide: Conheci o 3776 porque eu era integrante do TEAM MII, criado para comemorar o septuagésimo aniversário da cidade de Fujinomiya (2012). Depois de sair do TEAM MII, fui ver as apresentações ao vivo do 3776, e então fui chamada pelo produtor para participar.
O som do 3776 é um tanto experimental, com uma estética sonora que é convencionalmente chamada no Ocidente de Art Pop ou Progressive Pop, com elementos de rock alternativo nos arranjos. Chiyono, você já tinha contato com esse tipo de som antes, ou foi algo que vocês construíram juntos, sob a influência do produtor Akira?
CI: Primeiro, eu não me envolvo com a produção musical de forma alguma. Tudo é feito pelo produtor. E eu nem era tão interessada em música antes de nossas atividades, então entrei em contato com essas canções através do 3776.
E quem são os artistas, tanto do Japão quanto de fora, que inspiram vocês, ou que vocês costumam ouvir bastante?
AI: Acho que eu tendo a ouvir música de um jeito amplo e raso. Mesmo se começo a gostar de um artista, é comum eu ficar entediado rapidamente. Além disso, costumo ter um artista ou música favorita durante apenas uma produção que faço. Por exemplo, durante a produção do Saijiki, gostei de ouvir vários DJ Mixes, como as do DJ Krush, do JAZZANOVA, do Patrick Forge, etc. Então fui muito inspirado por eles na época da produção do álbum, mas recentemente nem tenho escutado eles mais.
CI: Eu costumo me impressionar com músicas fofas com graves mais proeminentes, tipo aquelas músicas delicadas que fazem cócegas nos ouvidos.
Só por curiosidade, vocês costumam ouvir artistas brasileiros? Se sim, quem?
AI: Eu gosto de Bossa Nova. Peço desculpa por trazer um artista antigo, mas tenho respeito pelo Antônio Carlos Jobim como um compositor. E também gosto do Baden Powell como músico. Eu não sei o significado da letra, mas “Águas de Março”, do disco Elis & Tom, é uma das minhas músicas favoritas. Eu acho que a atmosfera da canção, com algum humor envolvido, definitivamente influencia a minha música.
CI: Desculpa, mas a música brasileira não me é muito familiar. Eu gostaria de tomar essa entrevista como uma oportunidade para ir conhecer.
Voltando ao trabalho de vocês, uma coisa que atrai a minha atenção é justamente o esmero conceitual que vocês trouxeram ao projeto. O maior exemplo é o próprio número 3776, referenciado em polirritmos e arranjos de várias canções. Como essas ideias surgiram? Vocês dois debatem as composições e as inserções desses elementos juntos?
AI: A gente não debate sobre isso, porque eu sou o encarregado de todas as composições. E a ideia de usar o número 3776 nas músicas foi originalmente algo para diferenciar o trabalho do novo grupo em relação ao anterior TEAM MII.
Falando agora especificamente dos álbuns, o primeiro deles, 3776 を 聴 か な い 理由 が あ る と す れ ば, foi descrito por um blog do meu país como uma “ode moderna ao Fuji-San”. Ao “moderna”, eu acrescentaria “milimetricamente produzida”, pela consistência do conceito nas letras mesmo na diversidade de arranjos, e pela contagem do tempo, dado que o disco tem exatamente 3776 segundos de duração. Quanto tempo levou para finalizar esse álbum com tantos detalhes?
AI: A produção começou em primeiro de setembro de 2015. Tive que finalizar no início de outubro, então a produção do disco durou por volta de um mês. Estava planejando fazer um disco de canções, então nem deveria ter levado tanto tempo. Contudo, ficou difícil justamente porque eu trouxe vários conceitos, que incluem isso dos 3776 segundos. Aí eu também tive que criar e gravar novas canções.
O título do álbum de 2015 se traduz para algo como “Se tivesse alguma razão para não ouvir o 3776”. Esse título foi pensado como uma brincadeira, ou teria por trás algum tipo de receio da parte de vocês quanto à recepção do álbum, talvez por soar muito diferenciado de outros grupos Idol?
AI: O título foi anunciado antes mesmo de eu aparecer com o conceito do trabalho, como falei antes. Sendo honesto, não tem nenhum significado profundo. Contudo, eu estava pensando no planejamento de anúncios para o lançamento do disco. Queria fazer um vídeo no qual várias pessoas respondiam a “razão para ouvir 3776”, de um jeito bom ou ruim, e eu precisava do título para fazer esse projeto de divulgação.
Das doze faixas, há duas que eu gostaria de mencionar que chamaram a minha atenção. Estas são “湧玉池便り” and “3.11”. A primeira é uma canção sobre um lago, originalmente gravada pelo TEAM MII, e aqui no disco ela tem um humor que me lembra algo como um dub eletrônico. A interpretação de Chiyono também difere da original, indo muito mais em um humor onírico e melancólico. Akira, o que levou você a fazer essa regravação com novos sons?
AI: Ao montar um “álbum de 3776 segundos”, eu tive que inserir uma canção com uma duração extensa naquela parte. Além disso, dentro do fluxo geral, eu queria uma música lenta. Existem vários conceitos nesse álbum, e um deles é mobilizar elementos de canções de trabalhos anteriores. Cada faixa usa muitos samples de músicas anteriores do 3776 e do TEAM MII, e 湧玉池便り” também tem esse significado. Contudo, é uma versão, não um sample. E pelas razões já colocadas acima, acabou ficando com esse humor.
E quanto à outra faixa, “3.11”, ela faz referência no título à data do Terremoto do Japão em 11 de março de 2011. E apesar de falar sobre um evento bastante traumático, é uma canção com andamento rápido e atmosfera otimista, com letras que comentam sobre “se abraçar forte” em frente à adversidade. Como foi para você, Chiyono, tratar desse tema numa música?
CI: O Terremoto de 11 de março foi um evento tão grande em minha vida que eu estava bem nervosa em cantar a respeito. Valorizamos o desejo de viver nossas vidas com muita proteção e carinho. No bom sentido, acho melhor fazer algo divertido no futuro próximo sem pensar no futuro mas distante.
Agora vamos falar sobre Saijiki, o disco de 2019, que foi o primeiro trabalho de vocês com o qual eu tive contato. Considero um trabalho impressionante, especialmente pela organicidade do som que ele apresenta. Existe muito a se discutir sobre ele, mas vou começar perguntando sobre a forma. Esse disco é descrito como um tipo de DJ Mix coordenada por você, Akira, já que as canções sempre parecem emendar umas na outra e criar um senso de unidade. Como você escolheu esse tipo de disco mais fluido? Havia outro álbum que te inspirou?
AI: Eu mencionei antes sobre as DJ Mixes que eu me referi no trabalho. Eu queria fazer um disco que fosse mais fluido que o anterior, eu senti ser incompleto nesses termos.
Chiyono, você traz um repertório que consiste em, para além das composições originais, peças folclóricas como Sakura Sakura e cantigas infantis como “雪やコンコン” e “ほたる来い”. Mas longe de ser só uma reprodução, todas são reimaginadas, em um contexto mais eletrônico, com batidas polifônicas e texturas. Como foi a escolha das peças? Foi muito trabalhoso fazer essas releituras?
CI: Penso que foi uma seleção bem interessante porque escolheu tanto músicas populares no Japão, quanto canções mais desconhecidas localmente no país. As canções com arranjos difíceis eram muito trabalhosas para cantar.
Bom, se o trabalho de 2015 já tinha sido planejado em detalhes, em Saijiki a coisa foi para outro patamar. Quanto tempo levou para que vocês acertassem tudo isso? Foi desafiador trabalhar com todas as essas regras criativas em mente?
AI: Certamente levou tempo, mais de dois meses para fazer esse disco, incluindo a composição de três novas canções. Joguei fora muita coisa para seguir as regras, como o tempo e a tonalidade das canções originais. E incluindo isso, foi difícil.
Existem peças de música erudita sampleada no disco. Alguns exemplos são o tema da Nona de Beethoven e o primeiro movimento da Sonata ao Luar dele, que inclusive faz uma transição orgânica com Clair de Lune, de Debussy (o que faz todo o sentido, já que ambas as músicas tratam da Lua). Esses são temas muito conhecidos de música erudita, claro, mas eu adicionaria que é da música erudita que vem o conceito de ciclo de canções, com várias peças articuladas em relação a um tema ou coleção, como acontece em Saijiki, e também há o fato do disco ser montado como uma colagem sonora, técnica desenvolvida na música erudita do século XX. Qual foi a extensão da influência da música erudita no trabalho?
AI: Não estudei música erudita formalmente. Mas claro que eu gosto dela. De início, a razão de Saijiki ter elementos de música erudita aconteceu porque coloquei elas às canções “Merry Christmas & Happy New Year” e “New Year is Very Good” – [no Japão, o tema da Nona de Beethoven é costumeiramente tocado nesse período do ano]. A influência desse elemento na última, que é uma cantiga infantil tradicional, foi especialmente grandiosa. Depois disso, comecei a compor algumas canções combinando uma cantiga infantil tradicional japonesa com música clássica ocidental.
Tenho que dizer que meu “mês” favorito do disco é o de Março (弥生三拍子ト調). E eu juro que não é somente por ser o meu mês de aniversário. Confesso que a canção しゅんみ [Shun-min], presente na faixa, me traz uma paz maravilhosa, algo realmente divino. Vocês também têm “meses” favoritos entre as 12 faixas?
AI: Muito obrigado. Eu tentei pensar sobre isso, mas não tenho nenhum em particular.
CI: Eu também gosto mais de “Shun-min”. Você tem bom gosto em música!
Além do projeto principal 3776, vocês têm o Minanaro Extended, que consiste em apresentações ao vivo abertas a mais experimentações. Eu consegui ver algumas dessas apresentações no seu canal, e achei a sinergia de vocês dois fascinante para esse tipo de trabalho. O Minanaro Extended foi uma necessidade que surgiu da complexificação da música que vocês produziam? Em sua opinião, quais são as diferenças principais dele para produção regular do 3776?
AI: Como eu mencionei antes, quando o 3776 estava em formação solo, eu estava planejando retornar para formação em grupo por algum tempo. O estilo do 3776 Extended foi uma tentativa de fazer algo que eu só podia durante a formação solo. Eu não defini o estilo do 3776 Extended em detalhes, mas se eu fosse definir novamente agora, a diferença pode estar em se há ou não improvisação.
Ouvindo as performances do Minanaro Extended, posso ter uma visão de composição baseada em um “processo-canção”, que é moldado a partir da soma das falas de vocês dois, Akira e Chiyono. De alguma forma, isso me lembra da visão que o compositor americano Steve Reich expôs em um ensaio em 1968, intitulado “Music as a Gradual Process”, no qual ele disse estar interessado em “um processo composicional e uma música que soe a mesma coisa”. Claro, existem contextos diferentes, mas esse pensamento é uma pista para entender a essência de sua performance ao vivo no Minanaro Extended? Quer dizer, no sentido de músicas que são menos uma mera reprodução de uma música produzida em estúdio, e mais o próprio processo de composição evidenciado a partir da mudança e adição de novas partes na performance ao vivo?
AI: Colocando de lado assuntos difíceis, gosto da música do Steve Reich, e penso que fui influenciado por ela. É possível que algum elemento tenha aparecido sem meu conhecimento. De todo modo, o estilo do 3776 Extended foi desde sempre um experimento no qual eu continuo fazendo coisas que eu quero tentar em uma performance ao vivo.
Chiyono, para além dos projetos do Minanaro, você também tem seu trabalho solo, com três álbuns gravados desde 2016. É notável que todos os três cobrem o tema da vida escolar. Em seu primeiro álbum, você canta sobre arquétipos de estudantes para cada um dos nove quadrimestres do ensino médio. Como esse trabalho foi concebido? Foi uma reflexão de sua vida diária, já que você estava entrando no ensino médio quando começou a gravar solo?
CI: O tema do primeiro álbum dela é “que tipo de estudante de ensino médio você será?”, quando ela estava no ensino fundamental. Já o segundo álbum foi produzido sob o tema do “resultado de realmente se tornar um estudante de ensino médio”. E o terceiro álbum é baseado no tema “eu não me tornei tal estudante de ensino médio, mas poderia ter me tornado”. [Quando eu perguntei sobre o uso de primeira pessoa ou terceira pessoa nos pronomes da resposta, considerando que o álbum é creditado à própria cantora, Chiyono comentou que “Não há um significado particular, mas considerando que o mundo paralelo é diferente do real, eu acho que você acaba potencialmente se reconhecendo como uma outra pessoa”, e por isso deixei do mesmo jeito].
E na vida real, como é a sua rotina diária de estudo? Eu aproveito a oportunidade para perguntar, já que você terá 20 anos em 2021, se você já está ou pretende ir a uma universidade ou buscar algum curso superior?
CI: Eu estava estudando como uma pessoa normal quando necessário. Após terminar o ensino médio, eu vou estudar em uma escola vocacional.
Eu gostaria de esclarecer um mistério aqui, Akira. No projeto solo assinado apenas por Chiyono, muitas das composições não são co-assinadas por você, mas por outros compositores. Mas os nomes deles não são encontrados em lugar nenhum quando pesquisado por mais informações. Assim, no estrangeiro, muitos acreditam que você continua sendo o principal compositor e arranjador, apenas usando pseudônimos. É isso mesmo? Se sim, por que foi feito desse jeito? Foi um jeito de demonstrar uma separação mais clara entre o 3776 e a carreira solo de Chiyono?
AI: Deixando de lado se são realmente eu ou não, eu estou convencido que queria fazer uma diferença clara. Queria que o projeto solo fosse um projeto Idol puro, independentemente de quem fosse o compositor. Então eu tentei procurar outros compositores tanto quanto nosso orçamento permitiu. Cabe a você imaginar se eu sou eles. Se perguntado, eu iria responder que não.
O 3776 é um projeto fortemente enraizado em valores culturais japoneses, mas de alguma forma, o som de vocês conseguiu ressoar com muita gente do resto do mundo (eu me incluo nessa). Quando foi a primeira vez que vocês ouviram que havia interesse internacional no grupo? Vocês esperaram em algum momento esse tipo de reconhecimento?
AI: Desde os primeiros dias, eu estava consciente de que havia uma reação de alguns estrangeiros. Eu penso que a primeira vez que eu percebi foi quando eu recebi um pedido da Inglaterra para o CD Overture. Contudo, eu não esperava que isso se espalhasse tanto.
Percebi que ultimamente vocês têm anunciado legendas colaborativas em inglês e espanhol nos seus vídeos… Isso é resultado do diálogo com fãs estrangeiros?
AI: Primeiramente, em relação às legendas em inglês, no início, eu estava tentando fazer por mim mesmo. Incluindo agora, quando eu primeiramente faço upload das legendas em inglês para uma canção, eu traduzo por mim mesmo. Contudo, um fã sempre vai me mandar um email com uma checagem de erros de tradução toda vez que eu faço isso. É um americano que consegue entender japonês e inglês. Eu o conheci em uma apresentação ao vivo no Japão.Em relação ao espanhol, um fã mexicano que eu não conheço ofereceu por email. Um arquivo de tradução que pode ser colocado no vídeo foi incluído, então eu estou fazendo o upload deles.
Sua música não está em nenhum serviço de streaming, só encontrei na loja OTOTOY. Sei que no Japão as mídias físicas (CDs, DVDs, Vinis) ainda são muito representativas em termos de vendas, enquanto em muitos países do Ocidente os serviços de streaming dominam cada vez mais o mercado. Como você analisa essa diferença? Você está interessado em adicionar sua música em plataformas de streaming?
AI: Percebi que os serviços de streaming eram muito difundidos, mas desde que comecei como um produtor de grupo Idol, entendi o valor de vender CDs em locais ao vivo e ter Idols assinando-os. Além disso, nunca imaginei que minha música seria aceita em todo o mundo. Porém, agora que o 3776 é aceito pelo mundo, acho que também é necessário ingressar em serviços de streaming como o Spotify, e estou começando a fazer um plano concreto.
Houve convites para concertos fora do Japão? Em algum momento, vocês aceitariam isso?
AI: Nós não tivemos nenhum convite. Mas se houver convite de algum lugar, eu gostaria de aceitar.
Falando nisso, para vocês dois, como foi passar por esse ano catastrófico de 2020, provavelmente sem poder se apresentar ao vivo e ficar longe dos fãs? O que mudou na rotina do grupo?
AI: 2020 foi o ano em que Chiyono se formou no ensino médio. Como o ambiente dela mudou tanto, algumas das atividades de 3776 foram programadas para terminar. Mas antes disso, essa pandemia veio e muitas coisas foram colocadas em espera. De qualquer forma, não podemos trabalhar como antes, inclusive com apresentações ao vivo, então decidi fazer videoclipes já que queria usar esse período para divulgar os álbuns já lançados para mais pessoas. Achei que seria bom para os álbuns se espalharem pelo mundo, continuando ou não nossa atividade. É por isso que adicionei legendas em inglês a eles.
Do primeiro ao segundo álbum de estúdio de 3776, quatro anos se passaram (2015 a 2019). Nesse ritmo, o terceiro álbum será lançado em 2023?
AI: Eu não consigo imaginar. De qualquer forma, mesmo que nasça um novo álbum, acho que o estilo será diferente do passado.
CI: Ainda não ouvi nada a respeito, então não sei!
Muito obrigado por sua atenção e respostas. Para encerrar, peço que digam a todos que eventualmente lerem esta entrevista: quais são os motivos que as pessoas têm para ouvir o 3776 agora?
AI: Pessoas do mundo, de acordo com as notícias mundiais, a reputação do Japão parece estar em declínio constante. Certamente acho que é assim para algumas pessoas, especialmente os governantes japoneses. Mas se você quiser entender o Japão, espero que reconheça que o Japão também tem coisas interessantes. Acho que a música de 3776 será uma das formas de ajudar. Se há um motivo para ouvir 3776, acho que pode ser esse… Na verdade, se eu responder a sério, penso que não existe tal motivo. Mas tentei pensar em algo. Muito obrigado.
CI: Acredito que você está vivendo uma vida difícil com toda essa doença do coronavírus, mas assista aos vídeos onde você pode ver me ver facilmente junto a personagens fofinhos que apresentam Saijiki no YouTube todos os meses. Penso que você pode ficar mais tranquilo!