A banda estadunidense desembarca no país para apresentação única no festival, que acontece no domingo, 11 de dezembro, em São Paulo
Texto Dora Guerra
Foto Third Pupil
“Crumb” é uma palavra em inglês, cuja tradução perde um pouco do seu sentido original. Em português, significa migalha, mas o termo não carrega a mesma crocância. É um nome curioso para uma banda de Boston – uma cidade fria e cosmopolita – formada em 2016, por integrantes então em seus 20 e poucos anos. E talvez não reflita perfeitamente a atmosfera do grupo: suas músicas vibram e revestem o clima por inteiro, sem deixar migalhas pra trás.
Mas Crumb, a banda, tem esse tipo de relação com a música. Mais do que canções sobre temas específicos, os músicos descrevem sensações e panoramas imagéticos, como uma migalha caindo ou as gotas do gelo derretendo. Um moodboard das nuances da vida. O negócio deu certo nesse clima psicodélico, caótico e sutil. Crumb explodiu na internet de um jeito inimaginável para uma banda independente, sem o apoio de um selo, mas com uma comunidade de adoradores do som da banda, que compram fitas cassetes, dão streams e publicam comentários elogiosos.
Dois EPs e dois álbuns depois, a banda vem pela primeira vez ao Brasil para show único no Balaclava Fest, no domingo (11.12), no Tokio Marine Hall. Além deles, sobem ao palco, os norte-americanos Alvvays e Fleet Foxes, e os brasileiros Ombu, Pluma, Jennifer Souza e Bruno Berle. Como o tempo passou, Crumb não é mais aquela bandinha indie em início de carreira, o grupo formado por Lila Ramani, Bri Aronow, Jonathan Gilad e Jesse Botter, soma mais de um milhão de ouvintes mensais, alguns anos de estrada, e uma trajetória cheia de conquistas.
“Quando ouço os nossos dois primeiros trabalhos, sou levada de volta àqueles períodos da minha vida”, Lila afirma, se referindo aos EPs Crumb (2016) e Locket (2017). Na época, o quarteto estudava música na Universidade Tuft, no estado de Massachusetts. “Olho para aquele eu mais jovem e sorrio. Todos nós crescemos individualmente e como um grupo desde a gravação desses projetos”, reflete.
O último trabalho lançado foi o disco Ice Melt, de 2021. É um registro pandêmico, mais denso e obscuro, diretamente relacionado com o tempo que foi feito. Como um contraponto ao isolamento, os artistas compensaram com mais criatividade, experimentação, e uma curiosidade quase infantil.
Para construir um som aquático, por exemplo, rolou até microfone com camisinha dentro do balde d’água. Lila se diverte com as experimentações sonoras: “Na maioria das vezes, tentamos gravar os instrumentos em diferentes espaços para dar uma vibe especial. No Ice melt, rolou gravação no porta-malas do carro e captação de voz no estacionamento”. No futuro, ela imagina paisagens ainda mais exuberantes. “Adoraria gravar em um espaço épico, realmente enorme, como o Grand Canyon.”
A frontwoman sinaliza que a mentalidade da banda já não é mais a mesma da época das gravações de Ice Melt, realizadas em Los Angeles, no estúdio do produtor Jonathan Redo, do Foxygen, e colaborador de nomes como Weyes Blood, Whitney e The Killers. Hoje em dia, o grupo vive o duro inverno novaiorquino, onde se preparam para entrar no modo hibernação por alguns meses. Claro, munidos de discos antigos e prontos para mergulharem nas discografias de seus artistas favoritos.
“Tanta coisa mudou desde os primeiros dias da pandemia, quando a gente gravou aquelas músicas. Entramos em uma nova fase”, lembra. Lentamente, o quarteto dá os primeiros passos em direção ao próximo disco, mas isso não significa uma brusca mudança de ares. Para Lila, existe uma continuidade entre os trabalhos: “Gosto de pensar que todos os nossos projetos se entrelaçam simbolicamente, e visualmente”.
Inclusive, é justamente isso que podemos esperar do show: composições de diferentes épocas se entrelaçando em harmonia. “É divertido revisitar essas músicas, e tocá-las para pessoas que nunca escutaram ao vivo. No show, todas as músicas dos nossos projetos fluem juntas de uma maneira agradável, não fico pensando na diferença entre as fases”, conta.
No que ela está pensando? Parece que Lila está pensando em nós. “[Estou ouvindo] muito rock brasileiro antigo, que está me deixando animada para a turnê”, explica. A expectativa está alta para a viagem, a artista espera ver um pouco de tudo, conhecer pessoas e descobrir novas paixões musicais. O clima futebolístico também agrada: “Como o show acontecerá durante a Copa do Mundo, tenho certeza que a energia será selvagem”. Pergunto se há alguma recomendação para o público, e ela dá três instruções essenciais: “Beba água. Fique seguro. E divirta-se!”.