Com 10 anos de estrada, a banda celebra a fase atual e divide o processo de criação do quarto disco, gēmeos
Texto Julia Harumi
Foto Luciana Barreto
Os últimos anos foram fora da curva para o Terno Rei, que viu o número de fãs, streams e seguidores aumentarem desde o lançamento de Violeta, em 2019. Tudo o que aconteceu depois virou material para o quarto disco, batizado de gēmeos, lançado em março do ano passado, e acompanhado de uma longa turnê com 40 datas, iniciada no Lollapalooza no ano passado. O ritmo segue agitado ao longo de 2023: o grupo está confirmado no C6 Fest e nas edições europeias do Primavera Sound.
As expectativas estão altas e o desejo de não perder os novos fãs também, então o jeito foi não repetir fórmulas, mas propor uma nova conversa a partir da história do grupo formado por Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra), Greg Maya (guitarra) e Luis Cardoso (bateria).
As 12 músicas são resultado de uma gestação pandêmica, um período de introspecção e de trabalho. Nos últimos dois anos, o quarteto colaborou com outras bandas – Fresno e Tuyo –, colocou um disco acústico no mundo, gravou versões de Djavan (“Lilás”) e Tim Maia (“Eu Amo Você”), e também criou um EP ao lado de Samuel Rosa, com direito a uma versão de “Balada do Amor Inabalável”.
Além disso, produziram o mini-documentário Onde Vou Agora? (2021), onde comentam sobre alguns momentos marcantes da trajetória conjunta, iniciada ainda na adolescência. A amizade cresceu para a vida e eles continuam unidos, contrariando as estatísticas das bandas que não conseguem chegar a ter uma década na ativa. De olho no futuro, os músicos comentam o processo de gravação do álbum e dividem detalhes sobre os planos para o futuro.
Vocês encerraram a era Violeta com o videoclipe de “Medo”. O que vocês deixaram para trás?
Ale: A certeza de que valeu a pena. Violeta nos deu mais projeção, a gente viajou o Brasil inteiro e teve shows memoráveis. Ele realmente tirou o medo e receio de que a gente fazia tudo errado (risos).
Bruno: O medo de a gente conseguir fazer um disco à altura do Violeta, de conseguir manter o patamar. Greg Não tinha muito medo de nada porque era uma época em que eu estava mais esperançoso e ansioso para ver o que ia acontecer. Talvez esteja mais inseguro nesse lançamento.
Luis: O medo de tudo acabar do dia para noite. Com a seriedade do trampo, estamos cada vez mais felizes de estar juntos e ver que faz sentido.
Se Violeta não tivesse feito sucesso, o processo criativo de gēmeos seria diferente?
Bruno: Sempre tento me desconectar e não pensar nisso. Não acho saudável ficar pensando só na pressão, porque você tem que estar feliz com aquilo. É uma balança. Pensava: “Será que estou gostando ou virou um trampo e quero agradar os outros?”. Sempre tento pensar nesses dois lados, é complexo, mexe com o psicológico.
Ale: O Violeta foi de 12 músicas para 11, e esse foi de 30 ideias para 19 músicas, 13 gravações e 12 faixas para soltar.
Greg: Acho que a galera, no final das contas, vai acabar gostando, porque o disco é diferente do Violeta, mas não deixa de ser o Terno Rei. Você encontra coisas que remetem aos outros discos, mas ele também traz coisas novas. É um prato cheio.
Luis: Isso também influenciou na hora da gravação e de escolher os arranjos. A gente tinha uma responsabilidade maior. A gente tem a banda há mais de 10 anos, então é doloroso pensar em perder o público que conquistamos.
Como a pandemia impactou na produção do álbum?
Greg: Rolou uma coincidência de datas que foi ao nosso favor. A gente nunca tinha feito uma tour tão longa, ficamos quase um ano e meio tocando o Violeta, mas a ideia já era tentar parar para começar o disco novo. Na época, a gente não conseguia porque surgia proposta para muitos shows interessantes e a gente não conseguia negar. Quando bateu a pandemia, fomos obrigados a parar, mas depois de descansar, já começamos a produzir. Foi algo demorado, durou quase dois anos de cabo a rabo.
Nos últimos três anos, vocês realizaram diversos projetos com outros músicos. Como essas experiências contribuíram para o gēmeos?
Ale: A gente gravou “Lilás,” um cover do Djavan, para um projeto da Deezer e já foi uma música que nos levou para outros lugares. Começamos a testar coisas diferentes, como um refrão mais pesado para o som que a gente faz. A experiência do Conexão Balaclava foi boa não só para o disco novo, mas é uma parada que enriqueceu para vida.
gēmeos traz cordas e até saxofone em algumas faixas. como vocês chegaram nesse sons?
Bruno: Foi um processo bem novo porque os produtores – Amadeus De Marchi, Gustavo Schirmer e Janluska – estavam envolvidos desde o início. Eram sete pessoas batendo a cabeça para decidir qual era a melhor ideia.
Qual foi a música mais difícil de finalizar?
Ale: Ah, “Aviões” chegou a ter umas sete versões diferentes. Uma muito down, outra feliz… Acabamos nos acréscimos do segundo tempo. Um dos produtores falou: “Vamos fazer uma bateria do Blink 182”. Depois pintou a linha de baixo. Acho que nunca fizemos uma música com tão poucos elementos. São eles bateria, baixo, violão, voz, synth e uma guitarra minimalista.
De todas as músicas, “Esperando você” se destaca por soar mais pesada. como foi o processo de criação dela?
Bruno: Sim, ela é mais pesadinha, tem bastante fuzz e um refrão mais punch. É uma música bem rock anos 2000. A gente não tem costume de fazer música assim, então foi difícil decidir uma letra, uma levada, e voz interessante para ela. Demoramos mais nela por causa do elemento instrumental, que é uma linguagem fora da nossa zona de conforto. E também tem as cordas, então foi difícil fazer soar bem com as guitarras destorcidas.
Luis: E isso sem fazer farofa. É fácil você cruzar a linha da farofa sem querer. Quando você coloca um violino ou corda na música, tem que tomar muito cuidado para não virar uma coisa super grandiosa ou como se você tivesse tocando com uma orquestra. A ideia era colocar uma cereja no bolo.
A melancolia é um sentimento muito presente nas músicas da banda. como vocês sentem que esse sentimento está presente nas novas músicas?
Ale: Vou falar de “Aviões” de novo. É uma música que traz a melancolia que a gente sempre apresentou, mas parte da visão de uma pessoa mais velha. A letra passa uma calma. Lembro que o Loobas tocava essa música no estúdio e todo mundo ficava na cadeira: “Ah, tá bom! Vamos descansar”. Sabe aquela coisa do tio no Natal depois de almoçar? Ela traz essa melancolia que a gente sempre apresentou, mas não tão idealizada e um pouco mais madura.
Luis: Talvez com menos angústia.
Ale: Com menos angústia e mais aceitação. Até tem uma frase na introdução de “Sorte Ainda” que fala: “Aceitar é o melhor exercício”. É uma parte que me toca. Por outro lado, tem “Olha Só”, que encerra o disco, e essa lembra a melancolia antiga, então dói um pouquinho mais no coração.
Como surgiu o nome do disco?
Ale: Tem uma coisa do sentimento da palavra. Sinto um mistério e uma ambiguidade, que é legal e tem a ver com a nostalgia e a amizade, algo que falo bastante nas letras. Quando você tem uns 13 anos, tem um amigo muito próximo e conta tudo para essa pessoa. Você se sente muito confortável com ela, então esse amigo se torna quase o seu gêmeo. E também tem a relação da banda que está junta há 11 anos, acho muito legal que a gente ainda consegue dar risada um com o outro. De certa forma, o nome explica isso: a nostalgia, a amizade e a própria história da banda.
Bruno: Gêmeos é um signo que a galera não gosta muito (risos), então achamos massa colocar um lance meio provocativo. Foi um nome que todo mundo gostou e é difícil achar um nome.
Greg: É um nome bem abrangente. Tem muitos significados e a gente meio que partiu do mesmo ponto do Violeta, que é bem abrangente. A galera acha que é uma pessoa, uma mulher, uma cor.
Créditos:
Fotos Luciana Barreto
Assistente de foto Vine Ferreira
Direção de Arte Thata Jacoponi
Beleza Amanda Pris
Styling Juliana Santos
Produção de foto Débora Moreno
Tratamento de imagem Mayã Guimarães