Filipa Aurélio, Gabriela Schmdt, Hick Duarte, Jef Delgado, João Victor Medeiros, Marina Benzaquem e Rodrigo Gianesi dividem referências e as maiores alegrias da profissão.
Texto Isadora Almeida
Foto Jef Delgado
A emoção de ouvir uma música favorita da banda ou artista que lhe é próximo ao coração é um dos sentimentos mais bonitos que o ser humano pode ter. Estar em comunhão com aqueles poucos minutos, uma história abstrata ou didática que te pega por identificação ou simpatia. O importante é que a experiência está registrada de alguma maneira, e mesmo que efêmera, ela pode ser revivida quando for conveniente, é só dar o play mais uma vez.
Eternizar em imagem os sentimentos desses seres criativos, que dividem com o mundo o seu universo íntimo em forma de arte, é uma tarefa importante, que comunica na mesma potência o que o artista quer dizer, e de certa forma, diminui a distância entre o artista e o fã. Seja na capa do álbum, foto de divulgação, dentro de uma matéria ou até mesmo no ao vivo. Quantas imagens já não chamaram a nossa atenção e nos fizeram descobrir novos sons?
Novos nomes da fotografia vêm documentando a efervescente cena musical brasileira, que conta hoje com trabalhos muito bem amarrados entre imagens e estética. E o mais importante, entende que é preciso ser assim. Pelas redes sociais, principalmente lá no Instagram, o trabalho de um fotógrafo pode apresentar um artista ou banda para o público que consome suas imagens, mas ainda não teve a chance de escutar esse som.
A Revista Balaclava destaca sete fotógrafos que flertam com a cena alternativa e independente musical do Brasil em 2021. Na palavra dos próprios, conheça um pouco mais sobre as suas respectivas trajetórias e referências.
Filipa Aurélio @filipaaurelio
“Comecei a fotografar shows e cena musical, pouco tempo depois da minha chegada em São Paulo, no final de 2015. Mas desde os meus 18 anos, quando ainda estudava fotografia em Lisboa, acompanhava em blogs, Myspace e Flickr, o trabalho da Amanda de Cadenet (fotógrafa e esposa do Nick Valensi, guitarrista do The Strokes, e fundadora do Girlgaze), ela viajava com a galera em tour, registrava o backstage, os palcos, tudo de um jeito muito intimista e despretensioso.
O início da minha experiência com fotografia aconteceu como uma viagem de autodescoberta. Conheci muita gente massa, muito lugar e pico diferente em SP, justamente porque eu ia com o propósito de fotografar e evoluir meu estilo. Foi bem importante, principalmente porque eu sou de fora e tive que construir o meu próprio corre.
Ao longo do tempo, fui alimentando as minhas redes sociais com o resultado dessas saídas noturnas, fui trocando ideia com a galera do meio, espalhando minhas imagens e visão. Em 2017, decidi largar meu trabalho fixo em agência e fui no embalo de alguns shows marcados para fotografar.
Nada me dava mais tesão de fazer, de mergulhar no desconhecido de uma banda que nunca fotografei ou de um palco que desconhecia. Fugir dos seguranças que atrapalhavam meu trabalho (risos), me tornar invisível no meio da multidão, e no dia seguinte, surpreender todo mundo com a minha visão dos acontecimentos e criar uma narrativa com isso.
Minhas principais referências de fotógrafos desse meio, na atualidade, são gringos. Prefiro sempre buscar refs de fora para não cair no erro de repetir o que a galera já faz aqui, sempre buscando trazer algo de novo pra minha linguagem.”
As principais referências de Filipa:
O Greg Noire (@gregnoire), dos EUA, trabalha com os maiores nomes da música preta contemporânea atual como: Travis Scott, Solange, Megan Thee Stallion, Anderson Paak, etc. Ele consegue fazer retratos dos artistas intimistas, expressivos, poderosos e minimalistas em pleno show, com uma edição a preto e branco que torna as suas imagens em peças atemporais e clássicas.
Vera Marmelo (@veramarmelo), portuguesa, como eu, me inspira desde antes de começar a fotografar shows. Ela é um dos nomes mais incontornáveis desse cenário, do outro lado do Atlântico. Seu trabalho me inspirou a mudar de câmera para a marca Fujifilm, pois as cores e texturas de suas imagens me inspiram muito. Admiro demais sua criatividade e uso de outros objetos e técnicas para fotografar shows, que vão muito além do óbvio.
CJ Harvey (@cjharvey2), dos EUA, ela fotografa quase exclusivamente com filme e ainda é tour manager de algumas bandas indie. Ela, como ninguém, consegue estar sempre em cima do acontecimento, registrando vários detalhes da vida na estrada. Além de seu olhar, admiro bastante seus retratos de artistas e pessoas comuns, sempre com essa pegada documental.
Gabriela Schmdt @gabriela_schmdt
“Faço foto de música desde 2007. Comecei fotografando bandas de amigs, festas e eventos culturais. As minhas referências vieram da cena alternativa da minha cidade, da boate, das okupas, ds artistas de rua, da montação, dos zines e experimentações dessa época.”
Hick Duarte @hickduarte
“Faço fotos desde 2008 . Comecei a cobrir os shows de uma casa de música independente em Uberlândia, Minas Gerais. Tinha 17 anos, estudava Comunicação Social e a minha vontade era atuar na área de jornalismo musical – na época, acho que muito influenciado pela MTV.
Então passei a fotografar os shows em que assistia, às vezes até escrevendo reviews para acompanhar essas imagens. Foi um período muito importante para ter contato com uma cena efervescente de música e cultura jovem da minha cidade natal.
Fui contratado por essa casa como estagiário de comunicação. Durante alguns anos, fotografei shows em todo fim de semana. Artistas e bandas independentes de todo o Brasil e de vários estilos se apresentavam lá, foi uma baita escola”.
As principais referências de Hick: Spike Jonze, Tyrone Lebon e os clipes do final dos anos 60. “Strawberry Fields Forever”.
Jef Delgado @jef.delgado
“Faço fotos de música há 5 anos. Comecei fotografando um festival em prol de cotas raciais na USP. Depois caí nesse corre literalmente do nada: quando uma câmera parou na minha mão, as pessoas do audiovisual me ensinaram a como usar, daí em diante fui pesquisando no YouTube e me aprimorando.
Trabalho com artistas do funk e do rap nesses anos e alguns acompanhei de forma fixa, como no caso do grupo NGKS e da Tasha e Tracie, quando elas ainda eram DJs.
Tive a honra de ser o fotógrafo do Racionais na última turnê do grupo e também fotografei o show do disco AmarElo, do Emicida no Theatro Municipal. São muitos artistas que eu trabalho hoje. Sou eternamente grato de trabalhar com o que amo, com foto e música, sinto que estou eternizando grandes momentos do cenário musical brasileiro.”
As principais referências de Jef: Outros fotógrafos pretos e de favela são minha referências, Helen Salomão e seu namorado Filé com Fritas, Cássio Andreasi, Daniel Eduardo, e até uma galera de fora Chi Modu e Josh Farias.
João Victor Medeiros @pedefeijoao
“Faço fotos de música desde que comecei a fotografar, isso foi em maio de 2016. Aqui em Juiz de Fora, existia o Encontro de MC’s, que na época era o segundo maior coletivo de Hip-Hop em Minas Gerais – atrás apenas da Família de Rua, que organiza até hoje o Duelo Nacional de MC’s e é a maior do Brasil.
Eu participava do Encontro de MC’s como videomaker, mas sempre rolava cobertura fotográfica dos eventos, além da filmagem das batalhas de rima. Já tinha interesse por cinema e audiovisual, então às vezes eu trocava ideia com os fotógrafos do coletivo e eles me emprestavam o equipamento durante o evento.
Ficava com a câmera por tipo, cinco minutos, e sempre uma das poucas fotos que eu fazia ali nesse pouco espaço de tempo era a escolhida pelo pessoal do design para ser a capa do flyer do próximo evento. Ali vi que tinha potencial e investi em meus equipamentos. As primeiras coisas que fotografei foram batalhas de rima.”
As principais referências de João: Minha formação como fotógrafo vem essencialmente da fotografia documental, então acima de tudo, sempre trago minhas referências dessa área. Gosto de me aprofundar nas histórias, trocar ideia com os músicos, prefiro estúdio e casas do que palco.
Nesse segmento, em específico, gosto das fotos de show do Sam Balaban e dos retratos da Vicky Grout, do Jack McKain e o trabalho do Jonathan Mannion, principalmente entre 1996 e 2004.
Marina Benzaquem @zabenzi
“Comecei tirando fotos de shows de amigues do colégio, quando era adolescente. Depois, outras bandas da cena do Rio começaram a me chamar pra fazer o mesmo. Daí pra frente, fui criando um vínculo e me juntando para pensar capas de discos e videoclipes. Neste momento, uma das coisas que mais sinto falta de fazer é ir a shows e levar a câmera, fotografar e assistir o show dessa maneira.”
As principais referências de Marina: São muitas. Estamos em contato direto com o trabalho e o registro fotográfico de pessoas do mundo todo. Mas o meu norte, hoje, são meus colegas de trabalho, com quem troco sobre música, cinema e tudo mais. Para citar alguns nomes desconexos entre as pessoas com quem troco e que admiro: Ana Frango Elétrico, Raquel Dimantas, Hiran, Barbara Tavares. E um dos meus trabalhos preferidos, que admiro à distância, é o do Markn @marknmarkn.
Rodrigo Gianesi @rodrigogianesi
“Sempre levava câmera pra show desde que era bem adolescente, mas comecei a fotografar shows profissionalmente mesmo em 2009/2010. Admiro demais o trabalho do Victor Nomoto e aprendi muito com ele quando estava começando a fotografar shows. Além dele tem um monte de fotógrafos e fotógrafas de show que eu sigo mas acabo esquecendo o nome (risos) sou horrível nisso. Mas dois que sempre me chamam a atenção quando estou descendo no feed são o Matty Vogel e o Rich Fury, ambos de Los Angeles.”